P. JOSÉ NUNO

09/12/2011 23h24 - Atualizado em 09/12/2011 23h24

Padre Nuno
Conheci o P. José Nuno desde os tempos de seminarista, em Cucujães. Encontrei-me algumas vezes com ele, em Nampula, quando éramos missionários em Moçambique, ele na Diocese de Nampula e eu na de Porto Amélia, em Cabo Delgado. Nosso relacionamento não foi muito.
Quando após a independência de Moçambique regressou a Portugal e foi fazer um Curso de atualização em Madrid, até à sua vinda para o Brasil, por dever de serviço e missão tive a oportunidade de conviver mais de perto com ele, e tive a oportunidade de acompanhar, através da correspondência, suas primeiras lutas apostólicas e seu zelo pastoral e apostólico em Virgem da Lapa e Bérilo, para onde foi residir.
Em 1997, vindo de Portugal, tive a dita de passar pela primeira vez, por Bérilo. Foi durante o pouco tempo que fiquei em Bérilo que tive a oportunidade de conhecer melhor o P. Zé Nuno.
Mostrou-nos, ao P. Manuel Bastos, Jorge Carvalhais  e a mim,a cidade e fez questão de nos levar ao novo Hospital, já funcionando e que fora fruto de suas lutas e empenho para que os doentes atacados pela doença das  chagas pudessem   melhor atendidos. Falou-nos com empenho e entusiasmo de seus esforços pela erradicação dessa doença e também da luta para que suas comunidades tivessem água potável, escolas com professores competentes… Disse-nos que na sua ação pastoral, tal era o empenho e preocupação pela saúde e bem estar das crianças, que não batizava as crianças que não tivessem sido vacinadas. Por isso, gloriava-se da erradicação da mortandade infantil dizendo que nesse aspecto Bérilo estava a nível do primeiro mundo.
Visitámos .a nova igreja, dedicada a Nossa Senhora de Fátima, construída por ele . Uma igreja airosa, moderna, em que a água da pia batismal, cai dum repuxo e do espelho de água, que em dias de muito calor tornava o ambiente mais suportável.
Mais tarde tive a oportunidade e a graça de estar a seu lado, em situações de dolorosa incompreensão.
Falando do P. José Nuno queria sublinhar algumas facetas de sua vida e missão.

Da esquerda para a direita: Padres  João, Neves, Pinho e Nuno
     A)   SEU AMOR AO POVO DE BÉRILO. Foi esse amor que o levou a travar tantas lutas para erradicação da doença das chagas que atingia a maioria da população de sua paróquia. Foi o amor ao povo que o levou a procurar ajudas e fazer convénios com a Universidade de Ouro Preto, como testemunharam na missa de corpo presente celebrada no nosso Seminário da Boa Nova em Contagem, o coordenador regional desse estudos,  Professor Flávio, de Ouro Preto e a Diretora Geral Profª Drª. Marta, que teve conhecimento do falecimento quando se encontrava  em S. Luís do Maranhão participando dum seminário sobre essa doença e da experiência de Bérilo. Por causa da morte do P. Nuno,  deixou o evento e veio  prestar a sua homenagem e agradecer ao P. Nuno seu trabalho e colaboração e dizer-lhe que o sonho de sua vida vai continuar. Não morrerá.
B)   O PASTOR: Bem próximo de seu povo, penso que conhecia a quase totalidade de sua ovelhas e, com que carinho e amor zelava por elas. Que as incentivava a caminhar e lutar pela sua subsistência e autonomia económica, construindo barragem para irrigação das culturas principalmente do ananaz, das verduras, da vinha e outras culturas adaptadas ao seu clima.
C)   O MÉDICO: Quanta preocupação pela saúde e bem estar de suas ovelhas quantas lutas e  brigas com médicos, centros de saúde e hospitais para que elas fossem atendidas com dignidade, como pessoas.
D)   O DEVOTO DE MARIA: Da mãezinha, como chamava carinhosamente a Nossa Senhora. O P. Nuno dizia que se durante a celebração da Eucaristia tornávamos presente a vida, a paixão, a morte e a ressurreição do Filho, não deveríamos esquecer a Mãe. Por isso lutou para que padres e bispos não terminassem a missa sem invocarem a mãezinha rezando a Avé Maria. Na homenagem de despedida no final da missa celebrada na Igreja da Senhora do Rosário dos Pretos houve uma afirmação que encontrei muito feliz: “não se sabia quando o Padre José Nuno, era o padre, o médico, o pastor, o sociólogo ou o engenheiro”. Ele foi tudo isso.
E)   O HOMEM QUE AMOU SEU POVO: Não há maior prova de amor do que dar a vida  pelos amigos. Isso fez o P. Nuno e para o provar vou servir–me das suas próprias palavras transmitidas ao povo de Bérilo, na mensagem enviada pela sua fámilia
Relembro a minha primeira visita a Berilo, acompanhado pela minha mulher. Durante a missa vespertina, rezada na igreja dos pobres, o padre Nuno, meu irmão,  proclamou  o seguinte: “Já devem saber que entre nós está meu irmão de quem gosto muito. Mas quero vos dizer à frente deles, meus irmãos e tomando-os como testemunhas, que vós é que sois verdadeiramente os meus irmãos. Por vós deixei pais, irmãos de sangue, amigos  e pátria. È aqui que quero estar, morrer e ser enterrado”.
Compreendemos agora a dificuldade em o arrancar de Bérilo, para se tratar em Belo Horizonte ou qualquer outro centro em que havia maiores possibilidades de tratamento médico.
Obrigado P. José Nuno, pelo testemunho de tua vida e de tua missão. Do céu em que apenas entram os valentes como tu, lembra-te de nós e do nosso Seminário.

P. Francisco  

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