Passando uns breves dias em Portugal, no final de 2011, o Pe. Manuel Neves, 70 anos, da Sociedade Missionária Boa-Nova, visitou o Correio do Vouga, acompanhado pelo Pe. Pedro José, que durante nove anos foi colega de missão no estado do Maranhão. Cansado, como disse, mas sempre animado, o Pe. Neves respira paixão pela missão e defende que todas as igrejas diocesanas têm a ganhar quando incentivam os seus padres a partirem por uns anos em missão. Entrevista conduzida por Jorge Pires Ferreira.
CORREIO DO VOUGA - Está há 34 anos no Brasil, na diocese do Brejo, estado do Maranhão, uma das regiões mais pobres do país…
MANUEL NEVES - Sim, demo-nos bem com o povo e parece que o povo não se deu mal connosco. A realidade do Maranhão é muito adversa a tudo, à lei, à justiça, a uma certa convivência social. Fui daqui sabendo como era aquilo por causa das telenovelas com fazendeiros e coronéis. Pensava que era tudo ficção. Cheguei lá e era verdade. Então, proclamámos a liberdade no meio do povo. Fomos demasiado apressados, mas fizemos como quando se tem que arrancar um dente. Ou sai de repente ou dói mais.
Essa ação libertadora, em favor do povo, trouxe-lhe dissabores?
Sofremos muito. Fui julgado três vezes. Primeiro por ser comunista, depois por ser agitadora das populações. Eu era agitador porque quando era julgado levava duas ou três mil pessoas comigo. Aquilo era um problema para a polícia. Em vez de eu ter medo, eles é que ficavam amedrontados, tudo por causa dos conflitos de terra.
O Pe Neves defendia a reforma agrária?
A terra estava toda dividida por grandes fazendas, algumas de 50 mil hectares. Dentro havia pessoas que apenas tinham o direito de viver, os moradores. Não tinham direito de ter uma árvore sequer. Perante situações destas, tivemos de enfrentar e assumir. Isto foi no princípio. Proclamámos a reforma agrária. A minha paróquia deve ser o município do Maranhão que tem mais assentamentos [aldeamentos] da reforma agrária. As fazendas eram tiradas dos coronéis e dadas a uma comissão de moradores. Agora elas têm a propriedade, mas não podem vender. Senão, passado pouco tempo está tudo outra vez na mão dos coronéis.
FONTE: , http://www.ecclesia.pt/correiodovouga/acesso, 26-01-12.
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