Na rotas das Missões no Rio Grande do Sul

11/02/2012 17h25 - Atualizado em 11/02/2012 17h25
Cruz Missioneira (Os dois braços abertos 
simbolizam a fé redobrada).
Caríssimos amigos (as) internautas...
Paz e Bem.
Aqui estou, para conversar um pouco convosco à cerca da concretização do sonho guardado há muitos anos de: Visitar as Missões no Rio Grande do Sul. E só, agora, no limiar dos 83, consegui concretizar.
Anos a trás estando, em Missão de férias com os nossos Seminaristas, em S. Gonçalo de Bassam – MG, nas proximidades de Amarantina, uma seta apontava e convidava a parar e visitar o museu das reduções. Este convite espicaçou minha curiosidade. Não resisti à tentação  e fui… Minha desilusão foi quase igual à de Antero de Quental, quando as portas do Palácio Encantado da Ventura se estrondosamente se abriram e lá dentro silêncio e escuridão e nada mais!... Embora não tendo encontrado o que buscava… encontrei algumas surpresas que me levaram a pensar, que valeu apena o logro. Assim, no pequeno espaço de algumas salas, tive o prazer de encontrar em pequenas miniaturas a reprodução exata dos monumentos, palácios, templos mais importantes de todo o Brasil e inclusivamente a miniatura da primeira usina elétrica do Brasil e, o que é mais curioso, gerando energia.
Monumento do Índio Sepé Tiarajú
Agora tinha a certeza de que não ficaria iludido…. Quando em 3 de Fevereiro, próximo passado, deixei o Seminário, tinha a certeza de que iria chegar à Terra das Missões. Para mim a Rota das Missões foi longa… mais de 5.000 km entre ida e volta. Mas valeu. Como bandeirante, sem bandeira e sem escolta, atravessei os Estados de Minas Gerais, S. Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Cataria e o Rio Grande do Sul.  
Em 6 de Fevereiro deixei Iguatemi – MS, e com os companheiros de aventura e sonho. Enfrentamos a estrada. Eramos cinco: - P. João Catarino, P. Joaquim Pinho, P. Isidro, sr. Buccioli e eu. Em Guaíra juntou-se à nossa caravana o P. Cesário.  Dentro da confortável arca de Noé, vão dois angolanos, um brasileiro e três portugueses. Por vezes, por causa dos sinais de transito, nossa barca mais parece uma Torre de Babel, do que a pacata Arca de Noé.
Depois daa travessia dos grandes latifúndios de Mato Grosso do Sul, do Paraná, entramos na região montanhosa de Santa Catarina onde, predomina o minifúndio.   
O rio Uruguai faz a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. Entramos na Rota das Missões.  Pernoitámos em Panambi. Estamos já em território da Missões.
Pelas 8h da manhã partimos para Santo Ângelo Custódio. Entre os 10 roteiros para um conhecimento mais aprofundado das Missões escolhemos parte do primeiro Santo Ângelo S. Miguel.
Pórtico na divisa de S. Miguel com S. Ângelo
Em Santo Angelo que foi uma das últimas Reduções a ser criada visitámos a imponente Catedral, cuja arquitetura se inspirou nas ruinas da igreja de S. Miguel, o museu municipal e o monumento Índio Missioneiro, homenagem à resistência dos índios guaranis em que se destaca como líder da resistência Sepé Tiarajú, e nos lembra o seu famoso grito de guerra:-“Esta Terra Tem Dono…”
Nos confins dos municípios de Santo Ângelo e S. Miguel um pórtico soleníssimos dá-nos as boas vindas, penso, em guarani, a S. Miguel.
A famosa Cruz Missioneira começa a aparecer nos Cruzamentos e indicando a entrada para as ruinas das antigas reduções que vamos deixando de lado.
Chegámos a S. Miguel no início da tarde, embora tendo apanhado algumas pancadas de chuva pelo caminho eu tinha a certeza que S. Miguel nos alcançaria a graça de um tempo bom para visitarmos as ruinas, da que fora a grande Redução de S. Miguel Arcanjo e que hoje é património da humanidade.
Infelizmente nossa visita começou, contra tudo o que seria de esperar pelo terreiro onde havia de tudo, inclusivamente bruxaria e onde uma grande imagem de Miguel pisa a cabeça do inimigo. É lugares de cultos tradicionais bem parecido com os terreiros que encontrarei em Moçambique.
Imagens conservadas no museu em S. Miguel das Missões,
 obra dos artistas guaranis 
Depois foi a visita à Redução de S. Miguel. Meu sonho estava se tornando realidade. Comecei pelo museu e antes de entrar surpreendeu-me a quantidade de pias de água benta , e lavabos em pedra talhada e trabalhada com belos ornamentos.   Entrei no museu e fiquei encantado com as belíssimas imagens de Nossa Senhora, São José, de Cristo e dos Santos padroeiros das Missões. Muitas já bastante deterioradas e mutiladas, como a famosa imagem do meu Cristo Partido, transmitiam fortes mensagens que calavam profundamente no silêncio do coração. Notória nessas imagens a influência da cultura dos índios. Impressionante a força comunicativa que delas irradiava. Surpreendeu-me o número de imagens de Santo Isidro.
Depois foi a caminhada através do imenso largo que fora palco de tantos espetáculos no passado e que hoje circundado pelos restos das ruinas nos conduz às ruinas da que fora a grande igreja à volta da qual, gravitava toda a vida e atividades da Redução.
Ruina da faixada principal da Igreja de S. Miguel Arcanjo
Antes de entrar nas ruinas da velha igreja de S. Miguel, fotografei e filmei o exterior do tempo, os arredores os alicerces do que fora a casa dos padres, o colégio e as oficinas de pintura, carpintaria, dos pedreiros e da padaria, olearia de ler e escrever, lugar para os hóspedes, teares etc. Ao fundo o pomar e na ala esquerdo o cemitério.
As paredes de pedra trazida da pedreira missioneira, vinha da atual fazenda da Lage que fica a uns quilômetro do local. As paredes com 3 metros de espessura dão a sensação de segurança e resistência.
A igreja com três naves cujas paredes estão bastante conservadas tinha 73 metros de comprimento e 27 de largura, sua construção foi dirigida desde 1735 a 1745 pelo Irmão Jesuíta João Batista Primoli. 
Ruinas da nave do interior da Igreja de S. Miguel
Visitando estas ruinas e pensando na gesta gloriosa dos missionários jesuítas, na enorme transformação e baseada no respeito dos valores e na sua inculturação e no desenvolvimento das capacidades artísticas do povo guarani, ficamos surpreendidos e pensamos com foi possível em tão pouco tempo, cerca de um século, realizar tanta coisa nova  e uma obra tão notável.
Por outro lado faz-nos pensar o quão perniciosos são os efeitos de um política suja e interesseira, como foi a do tratado de Madrid e a expulsão dos Jesuítas, a que se seguiu a guerra dos Guaranis e foram a causa da derrocada desse sonho de liberdade e democracia que era  a republica dos guaranis duma terra sem males. 
Frente a Catedral de S. Ângelo 
Uma das coisas que, como missionário me surpreendeu, foi a metodologia usada na criação de novas Reduções. Todos os anos fico surpreendido quando na reza do ofício das leituras me deparo com uma belíssima expressão de Tertuliano: ”Em cada cidade por onde passaram ( os Apóstolo) fundaram Igrejas, nas quais outras Igrejas que se fundaram e continuam a ser fundadas foram buscar mudas de fé e sementes de doutrina. Por essa razão, são também consideradas apostólicas, porque descendem das Igrejas dos Apóstolos. Liturgia das Horas vol. II pág. 1568 Festa dos Apóstolos S. Filipe e São Tiago.
Foi assim, que procederam os jesuítas, que ao ir fundar uma nova redução, a redução mãe, ao enviar o Padre fundador o fazia acompanhar por um numeroso grupo de cristãos obreiros, mestres formados e especializados nas artes, ofício, na agricultura, na pecuária, na construção  e sobretudo na pastoral.
Depois de reviver durante toda a tarde a saga gloriosa dos missionários jesuítas dos Sete Povos das Missões e de refletir sobre fim trágico de uma obra a todos os títulos notável…
À noite fomos brindados com o belíssimo espetáculo de Luz e Som, com 33 anos de exibição! É o espetáculo mais antigo do Brasil!
No dia 7 foi o início do nosso regresso à base. Todos fomos unânimes na nossa avaliação de que valeu a pena!
A todos minha amizade, meu abraço e os votos de uma Santa e Transformadora Quaresma.

P. Francisco Sequeira 

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