Cruz Missioneira (Os dois braços abertos
simbolizam a fé
redobrada).
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Paz e Bem.
Aqui estou, para conversar um pouco convosco à cerca da
concretização do sonho guardado há muitos anos de: Visitar as Missões no Rio
Grande do Sul. E só, agora, no limiar dos 83, consegui concretizar.
Anos a trás estando, em Missão de férias com os nossos
Seminaristas, em S. Gonçalo de Bassam – MG, nas proximidades de Amarantina, uma
seta apontava e convidava a parar e visitar o museu das reduções. Este convite espicaçou
minha curiosidade. Não resisti à tentação
e fui… Minha desilusão foi quase igual à de Antero de Quental, quando as
portas do Palácio Encantado da Ventura se estrondosamente se abriram e lá
dentro silêncio e escuridão e nada mais!... Embora não tendo encontrado o que
buscava… encontrei algumas surpresas que me levaram a pensar, que valeu apena o
logro. Assim, no pequeno espaço de algumas salas, tive o prazer de encontrar em
pequenas miniaturas a reprodução exata dos monumentos, palácios, templos mais
importantes de todo o Brasil e inclusivamente a miniatura da primeira usina
elétrica do Brasil e, o que é mais curioso, gerando energia.
Monumento do Índio Sepé Tiarajú
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Agora tinha a certeza de que
não ficaria iludido…. Quando em 3 de Fevereiro, próximo passado, deixei o Seminário,
tinha a certeza de que iria chegar à Terra das Missões. Para mim a Rota das
Missões foi longa… mais de 5.000 km entre ida e volta. Mas valeu. Como bandeirante,
sem bandeira e sem escolta, atravessei os Estados de Minas Gerais, S. Paulo,
Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Cataria e o Rio Grande do Sul.
Em 6 de Fevereiro deixei Iguatemi – MS, e com os companheiros de
aventura e sonho. Enfrentamos a estrada. Eramos cinco: - P. João Catarino, P.
Joaquim Pinho, P. Isidro, sr. Buccioli e eu. Em Guaíra juntou-se à nossa
caravana o P. Cesário. Dentro da
confortável arca de Noé, vão dois angolanos, um brasileiro e três portugueses.
Por vezes, por causa dos sinais de transito, nossa barca mais parece uma Torre
de Babel, do que a pacata Arca de Noé.
Depois daa travessia dos grandes latifúndios de Mato Grosso do
Sul, do Paraná, entramos na região montanhosa de Santa Catarina onde, predomina
o minifúndio.
O rio Uruguai faz a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.
Entramos na Rota das Missões. Pernoitámos em Panambi. Estamos já em
território da Missões.
Pelas 8h da manhã partimos para Santo Ângelo Custódio. Entre os 10
roteiros para um conhecimento mais aprofundado das Missões escolhemos parte do
primeiro Santo Ângelo S. Miguel.
Pórtico na divisa de S. Miguel
com S. Ângelo
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Em Santo Angelo que foi uma das últimas Reduções a ser criada
visitámos a imponente Catedral, cuja arquitetura se inspirou nas ruinas da
igreja de S. Miguel, o museu municipal e o monumento Índio Missioneiro, homenagem
à resistência dos índios guaranis em que se destaca como líder da resistência
Sepé Tiarajú, e nos lembra o seu famoso grito de guerra:-“Esta Terra Tem Dono…”
Nos confins dos municípios de Santo Ângelo e S. Miguel um pórtico soleníssimos
dá-nos as boas vindas, penso, em guarani, a S. Miguel.
A famosa Cruz Missioneira começa a aparecer nos Cruzamentos e
indicando a entrada para as ruinas das antigas reduções que vamos deixando de
lado.
Chegámos a S. Miguel no início da tarde, embora tendo apanhado algumas
pancadas de chuva pelo caminho eu tinha a certeza que S. Miguel nos alcançaria
a graça de um tempo bom para visitarmos as ruinas, da que fora a grande Redução
de S. Miguel Arcanjo e que hoje é património da humanidade.
Infelizmente nossa visita começou, contra tudo o que seria de
esperar pelo terreiro onde havia de tudo, inclusivamente bruxaria e onde uma
grande imagem de Miguel pisa a cabeça do inimigo. É lugares de cultos
tradicionais bem parecido com os terreiros que encontrarei em Moçambique.
Imagens conservadas no museu em
S. Miguel das Missões,
obra dos artistas guaranis
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Depois foi a visita à Redução de S. Miguel. Meu sonho estava se
tornando realidade. Comecei pelo museu e antes de entrar surpreendeu-me a
quantidade de pias de água benta , e lavabos em pedra talhada e trabalhada com
belos ornamentos. Entrei no museu e fiquei
encantado com as belíssimas imagens de Nossa Senhora, São José, de Cristo e dos
Santos padroeiros das Missões. Muitas já bastante deterioradas e mutiladas,
como a famosa imagem do meu Cristo Partido, transmitiam fortes mensagens que
calavam profundamente no silêncio do coração. Notória nessas imagens a influência
da cultura dos índios. Impressionante a força comunicativa que delas irradiava.
Surpreendeu-me o número de imagens de Santo Isidro.
Depois foi a caminhada através do imenso largo que fora palco de
tantos espetáculos no passado e que hoje circundado pelos restos das ruinas nos
conduz às ruinas da que fora a grande igreja à volta da qual, gravitava toda a
vida e atividades da Redução.
Ruina da faixada principal da
Igreja de S. Miguel Arcanjo
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Antes de entrar nas ruinas da velha igreja de S. Miguel,
fotografei e filmei o exterior do tempo, os arredores os alicerces do que fora
a casa dos padres, o colégio e as oficinas de pintura, carpintaria, dos
pedreiros e da padaria, olearia de ler e escrever, lugar para os hóspedes,
teares etc. Ao fundo o pomar e na ala esquerdo o cemitério.
As paredes de pedra trazida da pedreira missioneira, vinha da
atual fazenda da Lage que fica a uns quilômetro do local. As paredes com 3
metros de espessura dão a sensação de segurança e resistência.
A igreja com três naves cujas paredes estão bastante conservadas
tinha 73 metros de comprimento e 27 de largura, sua construção foi dirigida
desde 1735 a 1745 pelo Irmão Jesuíta João Batista Primoli.
Ruinas da nave do interior da
Igreja de S. Miguel
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Visitando estas ruinas e
pensando na gesta gloriosa dos missionários jesuítas, na enorme transformação e
baseada no respeito dos valores e na sua inculturação e no desenvolvimento das
capacidades artísticas do povo guarani, ficamos surpreendidos e pensamos com
foi possível em tão pouco tempo, cerca de um século, realizar tanta coisa
nova e uma obra tão notável.
Por outro lado faz-nos pensar o quão perniciosos são os efeitos de
um política suja e interesseira, como foi a do tratado de Madrid e a expulsão
dos Jesuítas, a que se seguiu a guerra dos Guaranis e foram a causa da derrocada
desse sonho de liberdade e democracia que era
a republica dos guaranis duma terra sem males.
Frente a Catedral de S. Ângelo
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Uma das coisas que, como missionário me surpreendeu, foi a metodologia
usada na criação de novas Reduções. Todos os anos fico surpreendido quando na reza
do ofício das leituras me deparo com uma belíssima expressão de Tertuliano: ”Em cada cidade por onde passaram ( os
Apóstolo) fundaram Igrejas, nas quais outras Igrejas que se fundaram e
continuam a ser fundadas foram buscar mudas de fé e sementes de doutrina. Por
essa razão, são também consideradas apostólicas,
porque descendem das Igrejas dos Apóstolos. Liturgia das Horas vol. II pág.
1568 Festa dos Apóstolos S. Filipe e
São Tiago.
Foi assim, que procederam os jesuítas, que ao ir fundar uma nova redução,
a redução mãe, ao enviar o Padre fundador o fazia acompanhar por um numeroso
grupo de cristãos obreiros, mestres formados e especializados nas artes,
ofício, na agricultura, na pecuária, na construção e sobretudo na pastoral.
Depois de reviver durante toda a tarde a saga gloriosa dos
missionários jesuítas dos Sete Povos das Missões e de refletir sobre fim
trágico de uma obra a todos os títulos notável…
À noite fomos brindados com o belíssimo espetáculo de Luz e Som,
com 33 anos de exibição! É o espetáculo mais antigo do Brasil!
No dia 7 foi o início do nosso regresso à base. Todos fomos
unânimes na nossa avaliação de que valeu a pena!
A todos minha amizade, meu abraço e os votos de uma Santa e
Transformadora Quaresma.
P. Francisco Sequeira
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